1º Dia (23-08-09)
Covilhã - Ponte de Lima - Rubiães
Depois de arrumadinha a mochila, pô-la às costas foi quase uma odisseia. Manter o equilíbrio com ela às costas, revelou-se quase impossível.
Tinha que tirar dali algum peso, caso contrário não conseguiria chegar a sítio nenhum.
Mas o que é que vou tirar??
Os produtos de higiene já são a dividir; preciso de roupa limpa para me sentir minimamente confortável...
Os produtos de higiene já são a dividir; preciso de roupa limpa para me sentir minimamente confortável...
No fim de bem vistas as coisas, ficaram apenas 3 pares de calças para 7 dias, roupa interior e t-shirts para cada um dos dias. Haveria de encontrar um sítio onde lavar roupa, não?
Com tudo pronto iniciámos a viagem, com uma sensação de ansiedade, daquelas que quase provoca comichão.
Depois de alguns bons km, chegámos a Ponte de Lima: o nosso ponto de partida.
Ok. Onde vamos deixar o companheiro de viagem durante 7 dias? Junto à GNR pareceu-nos um bom sítio.
A partir daqui estávamos por nossa conta.
Mochila às costas e aí vamos nós.
A primeira seta estava logo antes da ponte. Chegados ao Albergue começou a "caça" ao primeiro dos muitos carimbos que agora guardamos nas credenciais. Aí, por volta das 17h30, aconselharam-nos a ficar por ali mesmo. A etapa que estávamos a começar era a mais difícil do Caminho Português de Santiago. Estava a anoitecer e tinhamos a Serra da Labruja para atravessar.
Levados pela ansiedade e sob o lema "o ignorante é o mais feliz", agradecemos o conselho, mas resolvemos seguir a nossa viagem. Afinal eram apenas 15km. Haviamos de conseguir!
Continuamos a seguir as setas, isto até é engraçado!
Alguns km mais à frente, já a noite estava mais próxima, parámos num cafézinho perdido no meio de muito pouco e tentámos comprar uma lanterna. Não havia. Mas ficamos mais descansados quando nos disseram que iamos conseguir subir a serra antes de cair a noite. Mais um carimbo e aí vamos nós.
A Serra da Labruja é o fim do mundo, o degredo dos condenados, um verdadeiro inferno. Subidas ingremes e descidas pavorosamente inclinadas... no meio da noite! E desta vez não é um exagero.
A subida foi um esforço quase desumano e quando pensei que iria melhorar, eis que começa a descida. Por momentos pensei que ia morrer por ali mesmo. Num sítio onde jamais seria encontrada.
Ao fim de muitas horas chegámos a um sítio onde foi possível sentar e descansar um pouco. Nessa altura tive a terrível sensação que ia desmaiar ali mesmo.
Recomposta e desejosa de tomar um banho, a única coisa que me movia era a vontade de chegar ao albergue e descansar. Encontrámos, então, o sítio que precisávamos: "O Repouso do Peregrino". Batemos à porta e apareceu um rapazinho meio assustado. Perguntámos se havia quartos e ele respondeu que não. Completamente desesperada, pedi que me arranjasse um táxi para nos levar ao sítio mais próximo onde pudéssemos descansar. Não havia!!!!!!!! O quê?????? Onde estamos nós???? No fim do mundo????? Quase.
Depois de alguma insistência conseguimos ficar por ali mesmo.
Um banho, uma cama.....
Sou feliz neste momento! Pensei eu, mais uma vez, enganada pelo meu lema de vida.
Dormir revelou-se um tormento.
Lição para hoje: Quando nos disserem que o caminho é difícil e devemos fazê-lo de dia, então siga-se o conselho.
2ª Dia (24-08-09)
Rubiães - Valença
Chegou a manhã e com ela a dona da casa de repouso onde ficámos. Uma senhora que não devia muito à simpatia.
Descemos para o pequeno-almoço e, apesar de a sua simpatia ter melhorado significativamente, fez questão de nos recordar que a nossa noite poderia ter sido pior. Podiamos ter sido atacados pelos javalis que andam no monte, por exemplo.
Fiquei muito mais satisfeita!
Estava cansada, mas inteira e, principalmente, viva!
Mochila às costas e aí vamos nós mais uma vez.Primeira paragem no Albergue de Rubiães para mais um carimbo. Aí caiu por terra a vontade de dormir em albergues. Apesar de novo está muito mal conservado e limpeza é coisa que não abunda muito por ali.
Dali seguimos até ao café mais próximo, estava a faltar a dose de cafeína que me estava a transtornar ligeiramente. Síndrome de abstinência, com certeza.
A caminhada continuou até que a chuva resolveu acompanhar-nos e com ela veio também o meu mau humor. ODEIO CAMINHAR À CHUVA!!!!
Depois de almoço a coisa lá se compôs.
Chegados a Valença, o mais urgente era mesmo tomar um banho quente e vestir uma roupa seca.
A roupa limpa estava a acabar. Encontrar uma lavandaria que lavasse algumas pecinhas de roupa foi totalmente impossível. Alternativa: no albergue devia ser possível lavar roupa. Lá fomos nós, lavar roupinha à mão no tanque do albergue. É pena não haver registo fotográfico. Tarefas domésticas é mesmo contigo, um dia destes contrato-te.
Depois disso, foi altura de passear um pouco pela fortaleza e tirar algumas fotos.
Hora de jantar. Mais uma odisseia. Encontrámos um restaurante onde era 2ª feira. Carne não havia porque era 2ª feira, peixe não havia porque era 2ª feira. O drama da 2ª feira. No final o jantar estava mesmo muito mau.
Lição para hoje: Quando nos disserem que é 2ª feira e não há comida, é melhor não insistir.
3º Dia (25-08-09)Valença - Redondela
O dia amanheceu nublado. O que permitiu que a travessia do Rio Minho fosse muito bonita. Primeira paragem na Catedral de Tui e direito a mais um carimbo. Aí vamos nós, mais uma vez perder-nos no meio de caminhos rurais. Em alguns casos verdadeiramente pavorosos. Andámos, andámos, andámos e não viamos nada à nossa volta. 3 horas depois, quando já não havia força para mais lá apareceu um café perdido no meio do nada. Uma paragem revitalizadora. Por momentos senti que tinha ganho pilhas. Contudo, o cansaço foi-se fazendo sentir. E, não sei se já tinhas dado conta ou não, mas o cansaço perturba-te a capacidade de raciocínio. Táxi, comboio, autocarro, táxi.... AAhhhhhhhhh!!!
Lição para hoje: Apesar da tortilha, Redondela é um sítio para não voltar a visitar!
4º Dia (26-08-09)
Redondela - Pontevedra
A Ria de Redondela vista do cimo do monte é muito bonita, já valeu a pena.
Aí vamos nós para mais uma etapa.
Todos os músculos doíam, até os dos dedos dos pés, os ossos incharam e tudo isso já se fazia sentir. A etapa de hoje foi calma e com pouco a registar. Neste dia descobri que o silêncio é profundamente valioso.
Chegados a Pontevedra, encontrámos o menu do Peregrino: finalmente!
É isto????? Que desilusão, mas assim já não morremos ignorantes.
Aqui está uma cidade que me agradou. Alguma agitação, tapas e cañas.
Lição para hoje: Em Roma sê romano. Em Espanha não resistas, acultura-te.
5º Dia (27-08-09)
Pontevedra - Caldas de Reis
Relativamente fácil em termos de percurso, mas foi, quase, a pior de todas as etapas. Não em termos físicos, mas psicológicos.
Até em condições normais a paciência tem limites, mas quando o cansaço se faz sentir a paciência diminui consideravelmente.
Lição para hoje: Há situações em que optar pode ser a melhor solução.
6º Dia (28-08-09)
Caldas de Reis - Padrón
O final aproxima-se e a vontade de chegar é cada vez maior. Testei a minha resistência e descobri que aguento mais do que imaginava. Tal como o sucesso, ter consciência daquilo que somos capazes também é viciante. Se cheguei até aqui, então vou chegar até ao fim! E, de certa forma, cumprir o objectivo a que me tinha proposto era uma forma de sucesso!
7º Dia (29-08-09)
Pádron - Santiago de Compostela
O objectivo estava cada vez mais próximo. Por isso, a vontade de chegar era cada vez maior. Sem grandes problemas lá fomos andando e ver Santiago ao longe foi revigorante.
A chegada foi um verdadeiro tormento, mais um teste à paciência!
Muitos carimbos, Certificado, Compostela... cheguei e a única coisa que me apetecia era largar a mochila.
Até hoje, não consigo descrever o que senti ao chegar. Senti apenas que cheguei!
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